1º de abril, o dia da mentira. Nessa data, as pessoas inventam histórias para logo em seguida desmenti-las com um sonoro ‘primeiro de abril’. As crianças se esbaldam com essa brincadeira e ficam a todo o momento pregando pequenas peças. É a possibilidade que têm de quebrarem uma regra tão lembrada pelos adultos, de que não podem contar mentiras.
E quem não as conta? Todas as pessoas de alguma forma usam desse artifício. O que não significa fazê-lo por maldade ou levar vantagem sobre algo.
Algumas são usadas simplesmente por uma questão de polidez ou hábito. Por exemplo, o tradicional cumprimento em que as pessoas perguntam umas as outras se está tudo bem. Invariavelmente a resposta é positiva, o que não é verdade na maioria das vezes.
Ou mesmo quando se elogia a aparência do outro, pelo simples comentário em si – nem sempre houve tempo suficiente para notar ou formular uma idéia a respeito. Dizer o contrário soa como falta de educação.
A verdade nua e crua é difícil de ser encarada. Por vezes é dolorida e nem sempre ela pode ser constatada. Quantas vezes as pessoas não mentem para si próprias como forma de se protegerem de uma dor? Como, por exemplo, não poder ver um problema explícito com o filho. Dar desculpas para algo que não vai bem é mais fácil, causa menos sofrimento. A realidade é distorcida, tornando tênue a linha entre a verdade e a mentira.
As pessoas se protegem na mentira. Essa é uma das funções de quem a utiliza, proteger-se de alguma coisa.
É um dos motivos que leva as crianças a mentirem também. Elas se encontram na condição de estarem começando a aprender a se virar no mundo (algo que não tem fim, é para a vida toda) e a distinguir aquilo que é aceitável do não aceitável. Em outras palavras, o certo do errado.
Diante de alguma confusão que possam causar, por mais inocente que seja, temem a reação dos adultos, principalmente dos pais, pessoas que não querem decepcionar. Assim, tendem a ocultar a verdade inventando histórias, que chegam a acreditar dependendo da idade.
O que pode se tornar um comportamento recorrente se a reação dos pais frente a algo que fez for muito exacerbada – com gritarias, ofensas ou castigos exagerados. Quando isso acontece, estimula-se a mentira e o medo dos filhos para com os pais – imaginam que há um jeito certo e único de fazer as coisas e que eles deveriam saber. Agindo dessa forma, perde-se a preciosa oportunidade de orientá-los.
Os filhos estão aprendendo as coisas da vida. Não dá para se enganar (mentindo para si próprio) que eles são perfeitos ou imperfeitos. Apenas estão aprendendo a difícil arte de viver.
Para isso, nada melhor do que encarar a realidade junto com alguém mais experiente, que possa ter uma palavra de sabedoria em momentos confusos e difíceis.
Por: Ana Cassia Maturano
Psicóloga e psicopedagoga formada pela Universidade de São Paulo (USP),
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